Não se pode falar em Réveillon, e não pensar em Champagne, assim como as grandes comemorações, ou até mesmo as pequenas podem, e devem, ser celebrada com essa bebida com uma história centenária.
Porém, não apenas para falar da história da bebida, aqui está o roteiro, bem como a história por trás dessas duas cidades que representam muito para a economia francesa e global.
A Denominação Exclusiva
Vinhos espumantes pelo mundo é o que mais tem, mas como dizem, adaptando: quem nasceu para ser um vinho espumante, nunca será Champagne, pois somente os naturais de um ‘pequeno’ território (pouco mais de 30.000 hectares ou cerca de 300 km²), rigidamente controlado, tudo o que for fora dessa região não poderá ser chamada de Champagne, pode ter outros nomes (e possivelmente métodos de produção iguais ou diferentes), como por exemplo o Prosecco, que é da Itália, e a Cava é da Espanha.
A Região, antes da bebida
A região de Champagne possui uma história que remonta séculos antes da criação e difusão de sua famosa bebida. Na cidade de Reims fica uma das catedrais góticas mais importantes da França, a Catedral de Notre-Dame , nesta pérola da arquitetura foram coroados a maioria dos Reis da França, desde Louis I, o Piedoso (filho de Carlos Magno, o Primeiro Imperador do Sacro-Império Romano-Germânico), em 816, pelo Papa Estevão IV (ou Etienne IV, na versão francesa), ainda na Igreja antiga, onde foram apenas 6 coroações. Já a partir de Louis VIII, em 1.223, ocorreram na atual catedral 25 coroações, terminando em Charles X, em 1.825.
A bebida como é hoje se deve principalmente a Dom Pérignon, pois o espumante já existia antes, porém de maneira bem diferente do que conhecemos hoje, e era usada principalmente nas grandes comemorações, como as coroações reais que ocorriam em Reims.
As maiores e mais tradicionais Casas de Champagnes remontam ao Século XVIII e XIX, tais como a Veuve Clicquot Ponsardin e Moët & Chandon, para citar somente duas casas antigas, conceituadas e as minhas preferidas.
Hoje a maioria das Casas estão reunidas em alguns grupos, como o LVMH (
Moët Hennessy Louis Vuitton SE), maior do mundo no ramo de artigos de luxo, que reúne numa só Holding 6 grandes Casas de Champagne, como: Veuve Clicquot Ponsardin, Moët & Chandon, Dom Pérignon, Mercier, Krug e Ruinart. Embora não tenha achado números concretos, essas marcas, com toda certeza, representam boa parte da venda de Champagne, já que são as mais conhecidas, outras que também certamente representam parte significativa são: Mumm e Taittinger.
Roteiro
Eu optei por fazer sozinho e não com guia (por meio de agências, como a Paris City Vision, que oferecem esse passeio), por quatro motivos principais:
1) Não havia data disponível para o dia que eu gostaria de visitar Champagne (28/12);
2) Na época que estava pesquisando o custo seria muito menor do que pelas agências (estava custando cerca de 150 euros);
3) Não incluíam ao menos uma das duas Casas que gosto: Moët & Chandon ou Veuve Clicquot e
4) A Guia dentro das Cave era em Inglês (eu não fiz aulas de francês, e não fui para França para ouvir inglês)!
Então optei por reservar as duas visitas que eu iria realizar, nas Caves da Mercier, em Épernay e da Veuve Clicquot, em Reims.
Transporte
Fiz todo o trajeto de Trem, de Paris eu parti às 08h36 com destino a Épernay, pois a visita às Caves da Mercier estava agendada para às 10h30 e o trajeto tem duração aproximada de 1h20min e considerando o tempo que levei andando da estação até a Mercier, deu perfeitamente, sem precisar correr.
Após sair da Mercier, por volta do meio dia, fui novamente para a estação, onde peguei um trem às 12h28min, que iria para Reims, num trajeto de aproximadamente meia hora.
E por fim, no início da noite, peguei um trem com destino a Paris de Reims, por ser mais rápido e fácil.
Mercier
História
Optei por visitar a Mercier, uma das integrantes do Grupo LVMH, a Casa foi fundada por Eugène Mercier em 1.858, época em que tinha apenas 20 anos de idade.
A maior intenção de Eugène era produzir Champagne para todos, mas mantendo a qualidade, tendo em vista que na época a produção da bebida não era acessível para todos, apenas os Ricos costumavam tomar, de forma que ele gostaria de abrir o mercado para os não afortunados também pudessem saborear esse espumante.
A Exposição Mundial de 1889
Eugène sempre teve uma grande visão para sua Casa de Champagne, tanto que para a Exposição Universal de 1889, mandou construir o maior barril do mundo, com capacidade de aproximadamente 213 mil garrafas, a construção é realmente imensa e foi transportada de Épernay até Paris, o que demandou uma operação hercúlea, tendo em vista a distância, as condições das estradas (em vários momentos optaram por abrir novos caminhos) e em Paris compraram e demoliram edifícios para que o Barril pudesse passar sem problemas.
Segundo relatos, a Mercier foi uma das grandes atrações da Exposição Universal, ficando atrás, somente da Torre Eiffel (afinal, a Torre é bem pequena e discreta)
Visita à Cave
Além de assistir uma apresentação da Casa, contando a história, a visita continuou pelas Caves, onde ficam armazenados o Champagne antes de serem distribuídos pelo mundo para consumo, o trajeto é realizado em um trenzinho, pois as Caves da Mercier em Épernay estão entre as maiores com vários quilômetros de extensão.
Com a finalização da visita, houve a Degustação de Champagne Mercier, o meu ticket permitia a degustação de três tipos: Brut, Brut Reserve e o Rosé.
Os três tipos são maravilhosos de se provar (infelizmente não sou especialista em vinhos para elaborar uma crítica detalhada), porém, são deliciosos e com toda certeza merecem a atenção de quem deseja um bom Champagne.
Reims
Cheguei em Reims por volta das 13h e como estava com fome, optei por almoçar no restaurante que tem na própria Estação, após o almoço parti diretamente para a Catedral de Notre-Dame de Reims, admirar o lugar que tantos reis foram coroados no passado e sinceramente, o lugar é magnífico, independente de você ser Cristão ou não, a beleza é inexplicável, só vendo pessoalmente para saber como é, pois por fotos, só se dá para ter uma ideia vaga.
Fui então para o Palais du Tau, antiga residência do Arcebispo de Reims e local onde o Rei passava a noite anterior a Coroação, onde se vestia e normalmente haveria um banquete após a coroação, fica ao lado da Catedral.
Atualmente no Palais du Tau, está em exposição as roupas usadas por Charles X, em sua coroação em 1.825, o último dos Reis Bourbon que foram coroados em Reims.
Veuve Clicquot Ponsardin
E enfim a visita na Veuve Clicquot, que tem uma ligação especial comigo, já que foi o primeiro Champagne que provei e foi amor no primeiro gole.
E embora tenha provado outros Champagnes maravilhosos, este continua sendo o meu preferido.
Início do Império
A Casa Veuve Clicquot Ponsardin, foi fundada em 1.772 por Philippe Clicquot, oriundo de uma rica família que já possuía alguns vinhedos e decidiu abrir uma Casa de Vinhos. E em 1.805, o herdeiro da Casa Clicquot falece e sua viúva, Barbe Nicole Ponsardin resolve assumir as rédeas do negócio da Família do marido.
Barbe resolve alterar o nome da Casa de Champagne, adicionando o Veuve (viúva), e o seu próprio sobrenome (Ponsardin, nome de solteira) a Casa, que se mantém até os dias de hoje.
As garrafas do Brut são reconhecidas facilmente, pelo rótulo Amarelo, marca registrada da VCP desde 1.877.
Visita
A visita às Caves da VCP ocorre quase da mesma forma que na Mercier, contando a história da Casa, da própria Viúva Clicquot, como das pessoas importantes que ajudaram a construir a Casa de Champagne que se tem hoje.
O ingresso que eu comprei, diferente da visita na Mercier só dava direito a uma taça do ‘Carte Jaune’ (Rótulo Amarelo), mas uma taça desse já é divino por si só.
Saindo da Veuve Clicquot, retornei para o centro de Reims, passei em frente à Catedral, que estava belamente iluminada e me dirigi a estação, já que infelizmente as lojas costumam fechar relativamente cedo e não havia muito mais o que poderia ser feito em Reims, o trem de retorno a Paris partiu às 18h45 e cheguei em Paris por volta das 19h31.
Informações relevantes – Custos
Visitas as Caves
A visita na Mercier, com a degustação de três tipos de Champagne, teve um custo de 25 euros (valores de 2018, em 28/11/2024, o valor para a degustação de três tipos de Champagne custa 40 euros).
Já a visita na Veuve Clicquot Ponsardin, com a degustação de uma taça, custou 26 euros (valores de 2018, em 28/11/2024, o valor para a visita é de 35 euros e há outras opções que podem chegar a custar 250 euros, dependendo do tipo).
Transporte
Para o trajeto, todo feito por trens, eu utilizei o Eurail Pass.O custo do passe é variável (quantidade de dias, classe selecionada, etc). Porém caso não possua o passe e mesmo assim queira ir de trem, é possível, com um custo que varia entre 54,10 e 68,80 euros (segunda e primeira classe, respectivamente).
No caso do transporte, se for usar o passe da Eurail, para gastar menos, evite pegar TGV, pois esses requerem reserva própria (a um custo de 16 euros por trecho, no site da própria Eurail).
Custo total
Desconsiderando os gastos com almoço e eventuais lembranças que serão adquiridas, uma visita a Reims e Épernay, sai entre 105 e 120 euros.
Se pegar um Eurail de 8 Dias (na primeira classe, como foi o meu caso) o custo diário do passe fica em torno de 37,63 euros, se não pegar o TGV, e portanto, não gastando com a reserva, o custo desse dia fica em 88,63 euros, ou seja, é uma grande economia se comparado as agências.
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